Tempos atrás,
Eu era só mais um no percurso.
Apenas um andarilho ao sabor do vento
Do conformismo errante, vagando no trilho
Do irrecuperável, saudoso e monótono tempo.
Tempos atrás,
De um marasmo monocromático, eu olhava pela janela
E admirava a paisagem, tão cheia de cores, tons…
Por que tão bela?
Deveras singela…
Que eu, na ignorância de julgar deter demasiado saber,
Barganhava todo o raiar da alvorada por uma ínfima luz de vela
E a vida, bem… ela…
Passava diante da minha retina como um clarão pela fresta da cela,
Quando eu martirizava-me e sucumbia a esta mazela.
Mas então, tempos atrás,
Num estalar arrebatado, disparado,
O casulo do meu pensamento deu lugar à borboleta esvoaçante da liberdade,
Sagaz e repleta de vivacidade
Uma ode ao prisma de uma inexplorada e convidativa realidade.
E depois de tanto relutar, enfim…
Olhei pra dentro de mim
E contemplei a antítese de tudo o que me tornei
E chorei, e ardi em dor, e me recuperei e sorri…
Foi intenso!
A valsa da existência me atraiu para dançar e eu disse sim,
E como um nobre cavalheiro, a cortejei e intimamente entrelaçados, seguimos assim.
Foi a partir daí
Que há tempos atrás,
O meu castelo de pura areia começou a desmoronar
Sem lamentos ou dores desnecessárias. Foi porque eu quis!
Despi-me do velho mentecapto soberbo para ouvir o que o coração diz.
E é loucura dizer isso
Mas, apesar dessa desordem,
Há tempos atrás
Eu não era tão feliz.
(Vinicius Martins)