No dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra. A data é oficializada pela Lei Federal nº 12.519 de 10 de novembro de 2011, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff e faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo de Palmares e ícone da resistência contra o sistema colonial português. Zumbi foi assassinado em 20 de novembro de 1695, sendo decapitado e tendo sua cabeça exposta em praça pública em Olinda, no Recife.
O Dia da Consciência Negra já é comemorado há pelo menos 30 anos. É uma longa luta, com avanços notórios – isso é bem verdade. Entretanto, mais de três séculos depois deste episódio lamentável da história, o racismo ainda mantém raízes impregnadas em nossa “cultura”. São casos diários e que nem sempre recebem a devida relevância.
Em contrapartida, quando tal violência atinge pessoas com status e notoriedade na sociedade, imediatamente vem à tona as agressões, promovendo uma comoção pública intensa. E neste bojo, podemos citar os exemplos dos ataques sofridos recentemente pela jornalista da Rede Globo, Maria Julia Coutinho, a Maju e pela atriz Taís Araújo, discriminadas nas redes sociais e também dos jogadores de futebol Aranha, ex-goleiro do Santos e atual Palmeiras, que sofreu insultos em uma partida de futebol contra o Grêmio em 2014 e Daniel Alves, lateral do Barcelona que também em 2014 foi vítima de racismo na partida Barcelona x Vilarreal, onde um torcedor arremessou uma banana no gramado no momento em que Daniel cobrava um escanteio, associando o jogador a um macaco. O lateral comeu a banana em resposta a ofensa e o gesto deu início a uma campanha viral na internet de repúdio ao racismo denominada #somostodosmacacos.
O pior é quando o preconceito se manifesta em redutos de pessoas teoricamente esclarecidas ou em processo de formação intelectual. É o caso do episódio acontecido em outubro na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo. É de se ficar pasmo, mas ocorreu. Uma frase pichada no banheiro da instituição trazia a seguinte mensagem: “Lugar de negro não é no Mackenzie. É no presídio.” O fato infelizmente é recorrente. Em agosto deste ano, outra pichação dizia que “O Mack não deveria aceitar nem negros, nem nordestinos”. A universidade instaurou procedimento interno para apurar as ações e identificar os autores.

Estes exemplos demonstram que ainda estamos um pouco longe de eliminar este lodo de preconceito incrustado em nós como sociedade. Com tantos avanços tecnológicos, científicos e sociais é inadmissível que ainda tenhamos um pensamento tão retrógrado, imbecilizado e criminoso. Pertencemos a um país completamente miscigenado, onde todos possuem em seu sangue e em suas raízes a influência dos negros e somos frutos dos progressos trazidos por eles. Tais benesses possuem origem questionável, reconhecidamente, por conta do viés escravista que mancha nossa história ao qual a população negra foi submetida, mas são frutos inegáveis do trabalho do povo negro. O nosso povo brasileiro, por sinal, do qual pessoalmente eu me orgulho em fazer parte.
No Brasil, diversas manifestações artísticas e culturais foram organizadas para a data em várias cidades. Em pauta, o fim do preconceito e da intolerância religiosa integram o mote das celebrações. Que possamos entender que somos todos iguais, independente da cor que nos tinge e aproveitar o momento para refletir sobre a irracionalidade da discriminação, mudar nossos conceitos e evoluir como cidadãos na tarefa de extirpar este absurdo do nosso convívio de uma vez por todas. Utopia? Talvez! Mas uma utopia gerada em várias mentes e corações pode se transformar em uma verdade definitivamente. Nem que esta luta dure mais três séculos, como a do Quilombo de Palmares.