
Movidos pelo sonho de construir o próprio negócio e ver a realização de seus projetos pessoais e profissionais, muitos brasileiros enfrentam diariamente o desafio de empreender no país, mesmo se deparando com os percalços burocráticos que envolvem a caminhada para o desenvolvimento de uma empresa. Diante desse cenário desafiador, surgem iniciativas para auxiliar esse público e facilitar a abertura, consolidação ou até a expansão do projeto.
Números do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em Goiás, obtidos em junho de 2025 a partir da base de dados da Receita Federal, apontam que o Estado possui 599.898 Microempreendedores Individuais (MEIs) registrados. Em relação às Microempresas (MEs), são 511.010 negócios desse tipo. Já as Empresas de Pequeno Porte (EPPs) somam 54.906 registros.
Mais que mera estatística, essa geração de negócios se reflete na criação de novos postos de trabalho, fator fundamental para a economia goiana e nacional.
De acordo com levantamento do Sebrae Goiás, baseado no Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) foram responsáveis pela contratação de 28.318 trabalhadores no acumulado de 2025. O índice representa 50,5% do total de vagas abertas no Estado.
Crédito, educação financeira e gestão
Ciente de todas as dificuldades que os empreendedores encontram, especialmente no que se refere ao acesso a crédito, seja para a administração cotidiana ou para ampliar a estrutura, o Sebrae criou o Programa Conexão Financeira.
Segundo a instituição, a iniciativa nasceu em resposta a essa realidade urgente, enfrentada por milhões de microempreendedores brasileiros. Isso porque o acesso ao crédito ainda é um desafio, especialmente quando não vem acompanhado de orientação adequada e de um ambiente institucional preparado para apoiar o pequeno negócio.
George Gustavo Toledo, gestor do Conexão Financeira do Sebrae Goiás, afirma que o programa oferece não apenas informações sobre crédito, mas promove uma consciência sobre o uso correto desse recurso, aliado à educação financeira e à articulação de uma rede de apoio sólida.
O gestor explica que o programa atua com base em três pilares que se complementam e se retroalimentam: Educação e Consultoria Financeira, Articulação Institucional e Acesso ao Crédito com Garantias.
“Antes de pensar em crédito, é essencial pensar em gestão. Por isso, promovemos oficinas, trilhas de capacitação e consultorias especializadas que ajudam os empreendedores, sejam eles MEIs, microempresas e empresas de pequeno porte a entenderem sua real capacidade de endividamento, organizarem sua vida financeira e tomarem decisões com base em planejamento. Além disso, oferecemos orientação pós-crédito, fundamental para que o recurso contratado seja bem aplicado e gere resultados sustentáveis”, explica George.
Para apoiar os empreendedores, uma rede de instituições trabalha de forma conjunta, com o objetivo de atender as necessidades apresentadas por esse público.
“Nenhuma mudança estrutural acontece de forma isolada. O Conexão Financeira articula uma rede ampla que envolve instituições financeiras públicas e privadas, agência de fomento, sistemas de cooperativas, entidades de classe, o Tribunal de Justiça, fintechs e as regionais do Sebrae. Essa rede permite que o empreendedor encontre um ambiente favorável para acessar serviços financeiros para acolher suas necessidades”, ressalta.
Entre as várias ações pensadas para esse segmento, destaca-se o Fundo de Aval da Micro e Pequena Empresa (Fampe). A ferramenta foi criada para facilitar o acesso ao crédito para as pequenas empresas.
“Com a ajuda do Fundo de Aval da Micro e Pequena Empresa (Fampe) e da Sociedade Garantidora de Crédito, o programa facilita o acesso de quem muitas vezes esbarra na falta de garantias para obter financiamento. Os empreendedores, por meio de ferramentas práticas, como o Portal Conexão Financeira e a Calculadora Sebrae, podem simular operações, comparar opções e tomar decisões informadas. Este pilar promove iniciativas como rodadas de crédito, eventos temáticos e regionais com empresas que demonstram aptidão no acesso ao crédito”, enfatiza o gestor do Programa Conexão Financeira.
Fomento aos empreendedores
Em Goiás, aqueles que optam por abrir o próprio negócio, também podem contar com o apoio da GoiásFomento. Segundo a Agência de Fomento de Goiás, o Microempreendedor individual (MEI) faz parte do público prioritário da instituição financeira, que oferece crédito com condições facilitadas para todos os setores produtivos goianos, incluindo a indústria, agropecuária, serviços, entre outros, com foco em micro, pequenas e médias empresas.
O presidente da GoiásFomento, Rivael Aguiar Pereira, reforça que “os microempreendedores individuais são um público muito relevante para a agência, tendo em vista que são grandes geradores de emprego e de renda para a sociedade como um todo”.
Rivael pondera que uma das principais dificuldades para o MEI ter acesso ao crédito diz respeito às garantias. Tal fato fez com que a instituição pensasse em um mecanismo voltado a esses empreendedores. Assim nasceu o Fundo de Equalização para o Micro e Pequeno Empreendedor (Fundeq), criado no fim de 2020.
“A maioria não tem garantias para oferecer na tomada de crédito. Sabendo disso, nós estabelecemos uma estratégia junto com a Secretaria da Retomada, para atender uma determinação do governador Ronaldo Caiado para ampliar o acesso ao crédito. Com isso, foi criado o Fundo de Equalização para o Micro e Pequeno Empreendedor que oferece garantias para operações de até R$ 21 mil que são tomadas aqui”, afirma o presidente da GoiásFomento.
Em 2024, os valores liberados pela GoiásFomento para os MEIs ultrapassaram os R$ 10 milhões, como descrito na tabela a seguir:
Mesorregião | Valor Liberado (R$) | Quantidade | % |
Centro Goiano | 5.262.975,03 | 341 | 48% |
Leste Goiano | 895.311,51 | 55 | 8% |
Nordeste Goiano | 104.421,14 | 8 | 1% |
Noroeste Goiano | 487.761,43 | 86 | 12% |
Norte Goiano | 497.129,64 | 30 | 4% |
Sul Goiano | 2.952.758,71 | 194 | 27% |
Total Geral | 10.200.357,46 | 714 | 100% |
Experiência de quem obteve acesso a crédito
A empreendedora venezuelana Lauris Barrera é proprietária de um dos milhares de negócios beneficiados por iniciativas de acesso a crédito em Goiás. À frente da Miranda Chocolatería desde 2018, ela conta como foi a experiência e tudo o que mudou em seu estabelecimento após a obtenção desses recursos.
“Obtive o crédito por meio da GoiásFomento. Soube dessa opção por vários conhecidos, que mencionaram que eles oferecem linhas de crédito para MEIs com juros mais baixos que um banco privado. Fui pessoalmente até a sede, no Setor Central, para fazer a tramitação e fui muito bem atendida durante todo o processo”, detalha.
Lauris relata que o crédito obtido foi investido em matéria-prima e na abertura da loja física, localizada no Setor Sul, em Goiânia.
“Já obtive dois empréstimos. No primeiro, o valor foi investido principalmente em matéria-prima, o que me permitiu montar um bom estoque. Já o segundo empréstimo foi essencial para dar uma força na hora de abrir a loja física no ano passado, um passo importante na expansão do negócio e na aproximação com os clientes”, relembra.

A empresária classifica a ajuda como fundamental, devido aos conhecimentos adquiridos em termos de gestão, além de estratégias aplicáveis aos projetos que envolvem a marca.
“Quando comecei, em 2018, não tinha os conhecimentos que tenho hoje sobre gestão financeira. E acredito que esse é um desafio para a maioria dos microempreendedores, porque precisamos cuidar de várias tarefas ao mesmo tempo. Mas, com o tempo, fui aprendendo a me organizar melhor e aplicar estratégias que ajudaram muito na estrutura do negócio. Com certeza, essa evolução tem sido fundamental para que, 7 anos depois, a Miranda Chocolatería continue firme e cheia de novos projetos, como a linha corporativa que estamos desenvolvendo nesse ano”, celebra a empreendedora.
Com a experiência bem-sucedida vivenciada no próprio negócio, Lauris dá dicas para outras pessoas que desejam seguir o caminho do empreendedorismo.
“Acredite no seu propósito. Emprender é uma jornada cheia de desafios, mas também de muitas conquistas. Busque apoio, crie uma rede com outras empreendedoras, parceiros e instituições como o Sebrae. Isso faz toda a diferença! E é importante aproveitar os canais de crédito que existem justamente para nos apoiar. Essas políticas foram criadas para fortalecer os pequenos negócios. Então, precisamos fazer uso dessas oportunidades para crescer com mais estrutura e confiança”, finaliza.
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