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Polícia prende suspeita de envenenar mãe idosa e filho em Goiânia

Leonardo Pereira Alves, de 58 anos, e a mãe dele, Luzia Tereza Alves, de 86 anos, morreram após tomarem café da manhã no último domingo (17/12) e passarem mal. Polícia já havia descartado qualquer relação com produtos de famosa doceria

A Polícia Civil de Goiás (PCGO), por meio da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH) prendeu, no início da noite desta quarta-feira (20/12), Amanda Partata Mortoza, de 31 anos, investigada pelas mortes, por envenenamento, do assistente de gestão administrativa lotado na Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores (DERFRVA), Leonardo Pereira Alves, de 58 anos, e da mãe dele, Luzia Tereza Alves, de 86 anos, que ocorreram entre domingo (17/12) e a madrugada de segunda-feira (18/12).

A investigação da PCGO já havia descartado a possibilidade do duplo homicídio ter relação com produtos de uma famosa doceria de Goiânia. De acordo com a DIH, o inquérito policial tem mais de 150 páginas de uma investigação minuciosa.

Investigações

Em entrevista coletiva concedida na manhã desta quinta-feira (21/12), que contou com a presença de peritos da Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC), o delegado Carlos Alfama, da DIH, detalhou como se deu a condução das investigações.

De acordo com o investigador, informações técnicas repassadas por peritos criminais da Polícia Técnico-Científica apontaram que as mortes não eram compatíveis com uma intoxicação alimentar. Isto porque o tempo de incubação das bactérias no organismo humano faz com que normalmente a morte ocorra após um período mais prolongado. Dessa forma, a situação se assemelhava a um envenenamento.

A partir dessa constatação, o delegado informou que as investigações tiveram início com o objetivo de que fosse traçada uma linha que identificasse a motivação para que o homicídio fosse cometido.

A princípio, foram buscadas informações de quem estava no local e quem havia levado ou tido contato com os alimentos ingeridos no café da manhã de domingo. Na casa, estavam Leonardo, a mãe dele, Luzia, o pai dele e, além dos familiares, uma única pessoa, que era Amanda, ex-nora de Leonardo, que foi namorada de um filho da vítima durante 1 mês e meio. Foi ela quem levou os produtos.

Dinâmica

Segundo o delegado, a mulher, que estava hospedada em um hotel da Capital, foi até um mercado no Setor Marista e comprou diversos alimentos, como biscoito de queijo, pão de queijo, suco de uva e os bolos no pote.

Em seguida, ela voltou ao hotel e depois foi para a casa das vítimas, que comeram os produtos no café da manhã. Lá, a mulher permaneceu por 3 horas. Assim que saiu, ela recebeu um áudio de Leonardo, dizendo estar passando muito mal. Ele reclamava de fortes dores estomacais, vômito e diarreia.

Na mensagem enviada, Leonardo demonstrou preocupação pelo fato de Amanda estar grávida e pediu a ela para que procurasse um hospital, pois ele e a mãe estavam passando muito mal.

Enquanto as vítimas se deslocavam para o hospital, Amanda já estava retornando para Itumbiara, no Sul goiano, para onde seguiu viagem. Na cidade, ela só procurou atendimento médico por volta da meia-noite daquele dia, depois da notícia de que Leonardo havia falecido.

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Leonardo Pereira Alves e a mãe dele, Luzia Tereza Alves, morreram no domingo (17/12) e na madrugada de segunda-feira (18/12), respectivamente — Foto: reprodução/redes sociais

Ameaças

Com essas informações, a investigação prosseguiu no sentido de descobrir a motivação para o crime. Isto porque Amanda relatava ter uma boa relação com a família do ex-namorado e alegou tê-los visitado e levado os alimentos em um ato de cortesia. A mulher disse ainda que a relação era tão boa que tinham feito juntos até um chá revelação para o bebê.

O trabalho dos investigadores avançou e foi descoberto que o filho de Leonardo estava sendo ameaçado por diversos perfis falsos nas redes sociais, pelo menos seis perfis diferentes. Além disso, o rapaz estava sofrendo uma perseguição conhecida como stalking e recebia, diariamente, entre 10 a 15 ligações que o ameaçavam ou não simplesmente não diziam nada, além de mensagens SMS.

De 27 de julho deste ano, data próxima ao término do relacionamento dos dois, até o dia em que ele denunciou a perseguição, o filho da vítima já havia bloqueado mais de 100 números de telefone. Os investigadores descobriram que esses perfis falsos utilizados para as ameaças pertenciam à Amanda. Já os 100 números eram derivados de uma tecnologia que “mascara” o número original, ao qual a Polícia Civil conseguiu ter acesso.

Conforme relatou o delegado Carlos Alfama, o número original era cadastrado no nome de um irmão de Amanda. Porém, no programa utilizado para disfarçar os números, ela havia colocado o e-mail dela em caso de recuperação, além do próprio telefone, para receber um código de confirmação.

As investigações constataram que a boa relação que Amanda afirmava ter com a família era falsa e que, na verdade, ela ameaçava o ex-namorado e os familiares dele desde o dia 27 de julho.

Ainda segundo o delegado, uma das mensagens enviadas por Amanda para o ex-namorado sem que ela se identificasse dizia: “Depois, não adianta chorar em cima do sangue deles”. Para se livrar de suspeitas pelas ameaças, a mulher chegou até a ameaçar a si mesma.

Investigadores concederam entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (21/12) e repassaram detalhes do crime — Foto: divulgação/Polícia Civil

Gravidez

Durante a coletiva, o delegado esclareceu que a família sabia do término do casal. Salientou, também, que Amanda anunciou a gravidez após o fim do relacionamento.

No entanto, a polícia já comprovou que Amanda não está grávida, mesmo ela dizendo ainda que está. Com autorização da defesa da mulher, a investigação revelou que exames mostraram que ela não está grávida “já há algum tempo”, mesmo fingindo enjoos.

Interrogatórios e prisão temporária

Amanda foi interrogada duas vezes pela polícia. Uma antes da prisão e outra após. No primeiro interrogatório, ela sustentou que a relação com a família era muito boa e que não tinha nenhum motivo para cometer o crime.

Momento da prisão da suspeita — Foto: reprodução/Polícia Civil

No segundo interrogatório após a prisão, os investigadores perguntaram para a mulher se ela confessava o crime. Sem esboçar emoção, ela negou. Ao ser questionada se ela havia criado perfis falsos para ameaçar o ex-namorado, ela também negou, sem mudar o semblante, de acordo com o delegado, que ressaltou que ela negava fatos já provados no inquérito.

O celular de Amanda, que está bloqueado, foi apreendido e será submetido a uma análise. O delegado Carlos Alfama destacou que sugeriu a ela que colaborasse com as investigações para que a prisão não fosse prorrogada. O investigador declarou ter tentado um acordo para que a mulher desbloqueasse o aparelho, a fim de confirmar a inocência dela. Amanda afirmou que não iria desbloquear o celular.

Diante desses elementos, a Polícia Civil e a Delegacia de Investigação de Homicídios pediram a prisão temporária por 30 dias de Amanda, a qual poderá ser prorrogada por mais 30 dias e foi deferida pelo Poder Judiciário.

O advogado de Amanda, Carlos Márcio Macedo, afirmou à TV Brasil Central que acompanhará a audiência de custódia, que será realizada nesta quinta-feira (21/12). O defensor argumentou que, em um primeiro contato com a cliente, ela negou o crime.

A polícia já esclareceu também que a investigada possui passagens em outros estados, incluindo falsa gravidez, com objetivo de enganar ex-companheiros. Ela também configura como parte em inquéritos sobre pornografia infantil, exercício ilegal de profissão e estelionato. As investigações continuam para esclarecer todos os pontos da prática criminosa, incluindo o produto utilizado para envenenar as vítimas.

Polícia reforça que doceria de Goiânia não tem nenhuma relação com o caso

Por fim, o delegado Carlos Alfama fez questão de reforçar que a injustiça direta de um crime como esse é contra as vítimas e seus familiares, mas que, nesse caso, houve também uma injustiça grande contra a Perdomo Doces. O investigador disse compreender que a informação, a qual classificou como “infundada”, tenha chegado à imprensa, mas foi categórico em reafirmar que a doceria de Goiânia não tem nenhuma relação com o caso.

O delegado informou que há a possibilidade que o veneno utilizado no crime não tenha sido utilizado nos doces e que é mais possível que a substância tenha sido dissolvida no suco, porque é mais fácil dissolvê-la no meio líquido.

“A doceria, inclusive, depois desse suposto envolvimento, passou por fiscalizações da Vigilância Sanitária, do Procon [Goiás], da própria Polícia Civil e, se constatou a plena regularidade da atuação da empresa, uma empresa séria, responsável, que colaborou a todo momento com as investigações, abriu as portas a todos os órgãos de vigilância. A empresa, ressalto, não tem nenhuma irregularidade. O envenenamento foi posterior à compra dos dos alimentos”, disse o delegado.

Carlos Alfama aproveitou, ainda, para agradecer a Perdomo Doces por ter colaborado totalmente com as investigações.

Suspeita se apresenta como psicóloga, mas não tem registro em Conselho

Em seu perfil nas redes sociais, Amanda Partata se apresenta como psicóloga, terapeuta cognitivo comportamental e advogada aposentada.

No entanto, o Conselho Regional de Psicologia de Goiás – 9ª Região (CRP09) informou que ela não tem registro profissional ativo como psicóloga cadastrado no banco de dados do Conselho. Disse também que, para o exercício legal da profissão, todos os profissionais são obrigados a manter o registro junto ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e ao Conselho Regional da região onde realizam o exercício profissional.

Já a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) informou que a Comissão de Direitos e Prerrogativas (CDP) acompanhou a prisão da advogada e continuará acompanhando as investigações para garantir que os procedimentos legais e as garantias constitucionais sejam respeitados integralmente, tanto em relação à profissional envolvida quanto ao devido processo legal. E destacou que a CDP assegurou que a prisão da advogada atendesse a todos os requisitos, observando as prerrogativas asseguradas à advocacia.

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Vinicius Martins

Jornalista por formação, com especialização em Marketing e Estratégia Digital. Fundador e editor-chefe da Revista Factual.

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